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Podcast precisa de roteirista?


A maioria das pessoas quando imagina um podcast visualiza pessoas conversando livremente, quase sempre numa entrevista, sem muita pauta. Por isso, quando eu digo que estou no meu segundo projeto como roteirista de podcast, o olhar é quase sempre de surpresa. Afinal, podcast precisa de roteirista?


Obviamente, minha resposta é um imenso SIM. Apesar do podcast formato flow - esse que citei no início do artigo - ser um dos mais populares, ele não é o único. Assim como no audiovisual, no mundo podcast também existe uma infinidade de gêneros e formatos possíveis, afinal, qualquer história pode ser contada em áudio, seja ficcional ou documental.


Como o universo é tão vasto vou começar tratando dos podcast de não- ficção, que são a grande maioria, deixando os de ficção para um próximo artigo mais aprofundado. No recorte da não - ficção também vamos encontrar de tudo, sendo jornalismo e true crime dois dos maiores segmentos. No Brasil, temos o sucesso do Projeto Humanos, cuja segunda temporada, Altamira, contou com a contribuição da roteirista Tainá Muhringer.


Roteirizar podcast ou uma obra audiovisual não é tão diferente. Nesse sentido, as primeiras definições básicas são a quantidade de episódios e a minutagem, ou seja, quanto tempo vai durar cada episódio. Em seguida temos as definições de formato, em caso de obras de não-ficção isso inclui se o episódio vai ser dividido em blocos ou possuir diferentes quadros, se vai ter uma entrevista principal ou utilizar recortes de múltiplas entrevistas, se vai utilizar material sonoro de arquivo, e, não menos importante, se vai ter uma narradora principal ou ser conduzido em forma de diálogo entre narradoras.


Aqui entra um ponto importante, excesso de vozes pode confundir o ouvinte. No audiovisual, em geral, não prestamos atenção nessas nuances auditivas, porque nos ancoramos nas imagens, mas aqui estamos no mundo dos sons.


Diferentes sotaques, timbres e personalidade vocal são muito bem vindos.

Se a multiplicidade de vozes for inevitável no projeto é importante lembrar de sempre introduzir esses novos personagens ou entrevistados.


Além disso, os sons podem ser utilizados para criar uma paisagem sonora transportando o ouvinte para outros contextos. Exemplo, se os entrevistados falam de um ocorrido dentro de um avião, por que não utilizar a ambiência de uma aeronave para criar um clima? Se o seu podcast fala dos oceanos, por que não convidar o ouvinte para um mergulho?


A audição é o sentido mais conectado à memória, portanto, é terreno super rico para despertar as mais variadas emoções. Use esse recurso de forma criativa.

A depender do tema e da abordagem, a pesquisa é parte do trabalho. No exemplo do true crime isso inclui leituras exaustivas de autos de processo e toneladas de juridiquês. Em um cenário ideal, quando é preciso buscar material de arquivo, realizar múltiplas entrevistas ou compreender informações muito técnicas é essencial que as roteiristas trabalhem em conjunto com um time de pesquisadoras.


Já o formato do roteiro pode variar. Alguns preferem a tabela em duas colunas, uma com indicação da voz e dos minutos se houver recortes e a outra com o conteúdo da fala. Outros preferem um arquivo word com marcação de cores, conforme uma legenda em que cada cor representa um tipo de arquivo sonoro como narração, material de arquivo, entrevista e por aí vai.


Antes de escrever a roteirista deve definir com a produção e direção (se houver) qual a melhor formatação possível. Algumas bancas de podcast já possuem seu próprio documento padrão, então, pensando no bem estar da equipe é importante fazer esse alinhamento prévio. O combinado não sai caro, regra número um de quem trabalha de forma colaborativa.


E por falar em equipe, essa talvez seja uma das maiores diferenças em relação ao mundo dos roteiristas de audiovisual, sobretudo, daqueles que estão habituados a trabalhar em salas de roteiros de série. As equipes são enxutas e quase sempre as decisões são mais horizontais. Os feedbacks passam por menos intermediários, o que pode significar uma margem maior de liberdade criativa.


Esse é um resumão do ofício fascinante de se pensar histórias em formato áudio. E para aqueles que acham que esse é um jeito menos nobre de se contar histórias, o meu palpite é que o podcast vai ocupar um espaço cada vez maior na vida das pessoas. O motivo é simples, o cansaço e a falta de tempo.


Estamos fatigados por horas intermináveis de trabalho no computador e reduzir o momento de lazer a mais horas plantados na frente de uma tela tem sido cada vez mais difícil. Fora isso, o podcast pode ser aquele parceiro inseparável enquanto fazemos tarefas do dia a dia, como lavar uma loucinha básica ou encarar uma inadiável faxina.


O podcast tem essa capacidade de se misturar à intimidade da rotina de quem ouve e criar algo cada vez mais difícil no mundo do entretenimento, um público fiel dentro do seu nicho.

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