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  • Foto do escritorjackelinescarpelli

A voz no podcast de ficção



"As criaturas estão usando uma misteriosa arma, que emite um raio de calor. Enquanto isso, chegam alguns detalhes sobre a catástrofe que acontece em Grover's Mill. Após realizar um ataque mortal, estranhas criaturas estão voltando para suas covas". Num tom que simulava um verdadeiro programa jornalístico, ia ao ar em 30 de outubro de 1938 a adaptação do livro Guerra dos Mundos, realizado por Orson Welles, em parceria com o roteirista Howard Koch, que viria a ganhar o Oscar por Casablanca anos mais tarde.


A transmissão via rádio que contava a história de uma invasão marciana na terra foi um sucesso e causou verdadeira comoção, já que muitos ouvintes levaram a história a sério. Talvez esse seja o primeiro hit das narrativas sonoras.


Na era de ouro do rádio, histórias contadas através do som eram verdadeiros fenômenos de público. No Brasil as radionovelas bombaram, consolidando um formato que viria a se tornar a marca da nossa dramaturgia.


A popularização da televisão nos anos 60 muda esse cenário e as narrativas visuais passam a ocupar o centro do palco até os dias de hoje. Mas, após décadas de esquecimento, embaladas pela evolução tecnológica e pela rotina apertada dos ouvintes, as narrativas sonoras voltam a ocupar um lugarzinho embaixo dos holofotes.


Por volta de 2003, o download de áudio blogs no iPod tornou- se possível. Daí surge o nome podcast . Vendo o potencial dessa tendência, a Apple inclui o item podcasting no iTunes e incentiva os usuários da marca a criar o seu próprio conteúdo na plataforma. Desde então, essa releitura contemporânea do rádio nunca mais parou.


E aqui estamos nós, habitantes do ano de 2022 tentando entender como contar histórias potentes usando apenas o som.

Mas, afinal, o que uma roteirista precisa ter em mente ao se arriscar no mundo dos podcasts de ficção?


Primeiro, o mantra universal do roteirista de podcast, o SOM.


Parece óbvio, mas não é. No roteiro audiovisual descrevemos visualmente o que estará em cena, certo? No roteiro de podcast ficcional descrevemos sempre o que será escutado. Então é preciso desde já começar a treinar o seu ouvidinho para adentrar o fantástico mundo das paisagens sonoras.


Esse mundo é composto por múltiplos elementos e aqui neste artigo vamos nos focar no primeiro e mais óbvio deles, a voz humana. As vozes no seu podcast ficcional podem ser construídas de duas formas. Narração ou diálogo. Essas duas opções costumam ser desconfortáveis entre roteiristas de audiovisual.


A narração é polêmica no mundo das narrativas visuais, justamente porque existe ali uma tendência a valorizar aquilo que pode ser contado através de imagens. Não à toa o tal do "show, don't tell" (mostre, não conte) é vendido como um dos dez mandamentos dos roteiristas. Mas, meus caros, no universo podcast não tem como mostrar, portanto, ficaremos só com o contar mesmo.


Outro campeão de desconforto é o diálogo, tem roteirista que ama, tem roteirista que odeia. Mas aqui no podcast ficcional não existe escolha, é preciso amar. Aqui o diálogo é um déspota e nós somos os súditos. Sem bons diálogos as possibilidades narrativas ficcionais em um podcast ficam bem limitadas.


Esses dois elementos sonoros são a engrenagem, é o que move sua história para a frente. Óbvio que a combinação ou ausência de um desses elementos é uma escolha que deve se adequar à natureza da sua história, mas fugir completamente dos dois não é uma possibilidade.


Encontrar o equilíbrio entre contar sua história por meio da voz humana, sem perder o ritmo, com emoção e cadência, sendo elegante, mas também não muito econômico a ponto das pessoas não compreenderem, exige algum esforço e prática, mas com certeza é uma habilidade que vai ser útil na sua trajetória como roteirista seja escrevendo narrativas audiovisuais ou sonoras.


Nos próximos artigos, vamos continuar esse passeio pelo mundo dos sons, conhecendo outros elementos indispensáveis no roteiro de podcast ficcional. Assine a newletter para novidades.


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